cartografias das literaturas africanas

ipotesi n14 grifo

A recentemente lançada edição 14 da Revista Ipotesi, conceituada publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora, reúne uma série de artigos voltados para discussão teórica e crítica acerca da ficção africana, destacadamente dos textos produzidos por autor@s de língua portuguesa. Nesse conjunto encontra-se um artigo meu, intitulado O sexo da “raça”: identidade, escravidão e patriarcalismo em A gloriosa família, de Pepetela, texto no qual discuto as articulações históricas e simbólicas constituídas entre racismo e sexismo no âmbito das sociedades escravocratas lusófonas, articulações que se convertem numa “economia política da sexualidade”, conforme os termos de Osmundo Pinho, que desempenha um papel central na regulação de conflitos e diferenças nas sociedades lusófonas pós-coloniais. O processo de construção cultural dessa economia pode ser visibilizado através de um estudo genealógico do excelente romance de Pepetela A gloriosa família, tal como me propus a fazer no artigo em causa.

pobreza e racismo no Brasil: dados recentes

Desigualdade racial se agrava no Brasil, diz relatório da UFRJ

Por outro lado, trabalho constata que pretos e pardos foram os mais beneficiados pelo estabelecimento do SUS

Wilson Tosta

O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010, lançado ontem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta a persistência e o agravamento da desigualdade entre pretos e pardos, de um lado, e brancos. O trabalho, produzido pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da UFRJ, mostra, por exemplo, que em 2008 quase metade das crianças afrodescendentes de 6 a 10 anos estava fora da série adequada, contra 40,4% das brancas. Na faixa de 11 a 14 anos, o porcentual de pretos e pardos atrasados subia para 62,3%.

Os resultados contrastam com avanços nos últimos 20 anos. A média de anos de estudo de afrodescendentes foi de 3,6 anos para 6,5 entre 1988 e 2008, e a taxa de crianças pretas e pardas na escola chegou a 97,7%. Mesmo assim, o avanço entre pretos e pardos foi menor. Na saúde, subiu a proporção de afrodescendentes mortas por causa da gravidez ou consequências. “Não quer dizer que as coisas estejam às mil maravilhas para os brancos, mas os pretos e pardos são os mais atingidos”, diz um dos coordenadores, o economista Marcelo Paixão.

Com 292 páginas, o trabalho é focado nas consequências da Constituição de 1988 e seus desdobramentos para os afrodescendentes. Para produzir o texto, os pesquisadores do Laeser recorreram a bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Ministérios da Saúde e da Educação e do Sistema Único de Saúde (SUS), entre outros. Foram abordados temas como Previdência, acesso ao sistema de saúde, assistência social e ensino.

O estudo constata que o estabelecimento do SUS beneficiou mais pretos e pardos (66,9% da sua população atendida em 2008) do que brancos (47,7%), mas a taxa de não cobertura (proporção dos que não conseguem atendimento) dos afrodescendentes foi de 27%, para 14% dos brancos. “A Constituição de 1988 não foi negativa para os afrodescendentes, mas, do ponto de vista de seu ideário, ainda é algo a ser realizado”, diz Paixão, reconhecendo que há brancos prejudicados, em menor proporção.

Em 2008

40,9%
das mulheres pretas e pardas nunca haviam feito mamografia, contra 22,9% das brancas

18,1%
das mulheres pretas e pardas nunca haviam feito papanicolau (13,2% entre as brancas)

Fonte: Portal Áfricas / Estadao.com.br